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50 anos de veículos automóveis dos Bombeiros de Lisboa-de 1930 a 1979

(iniciativa privada, de âmbito histórico, sem fins lucrativos)

Introdução histórica - Bombeiros de Lisboa e seus meios-auto

 

A organização

 

Embora à semelhança de outra qualquer grande urbe europeia tenham existido, desde tempos recuados, cuidados mais ou menos organizados em matéria de prestação de socorros  convencionou-se estabelecer como referencial histórico de partida para este efeito o ano de 1395 (Carta Régia que institui um Serviço de Incêndios estruturado, com enquadramento institucional, na cidade de Lisboa).

 

Em 1852 foi criada a entidade orgânica que seria mais tarde designada por CBML-Corpo de Bombeiros Municipais de Lisboa, com efectivos profissionais especializados e a tempo inteiro, de cuja evolução com diferentes figurinos resultou o actual RSB-Regimento de Sapadores Bombeiros, com passagem pelo  BSB-Batalhão de Sapadores Bombeiros. A partir de 1868 e por iniciativa de cidadãos com motivação cívica passaram a também, existir na capital corpos de Bombeiros Voluntários (BV), estes criados e mantidos por Associações Humanitárias de estatuto privado e natureza benévola. Até ao final dos anos 70 do século XX seriam progressivamente criadas diversas destas Associações na cidade de Lisboa, das quais 7 se encontravam activas no final daquela década (incluindo 6 criadas antes de 1935).

 

Nas décadas de 30 a 70 do passado século os corpos de Bombeiros Voluntários, operacionalmente subordinados ao ex-BSB, distribuíam-se por Secções Auxiliares de Incêndios e Secções Auxiliares de Socorros, estas últimas vocacionadas essencialmente para o transporte de de sinistrados e doentes (especialmente os mais necessitados) e sinistrados, serviço este que, no entanto, era de igual modo assegurado pelas primeiras. A universalidade do Serviço de Saúde por parte dos Corpos de Bombeiros Voluntários (CBV) decorre, entre outros factores, do facto dos  serviços públicos de transporte urgente em ambulância terem sido tardiamente criados em Portugal.

 

A distinção entre as duas categorias de Corpos de Bombeiros (CB) na cidade de Lisboa foi-se aliás esbatendo ao longo do tempo, sendo certo que, a partir da década de 70, todos os 7 CB de cariz não-profissional estavam já dotados de meios polivalentes e actuavam indistintamente, quer no âmbito do combate a incêndios e de resposta outros sinistros quer no do transporte de doentes e socorro a acidentados.

 

No âmbito da coordenação operacional a cargo do ex-BSB foram sendo atribuídas aos Bombeiros Voluntários da cidade zonas urbanas específicas de primeira intervenção em reforço. Alguns CBVs reflectem aliás, na sua própria designação em sede de fundação, uma área urbana de vocação territorial (Ajuda, Campo de Ourique, Beato e Olivais, Cabo Ruivo). Porém, no arco temporal em apreço, tal designação não coincide inteiramente com a respectiva área primária de actuação, por regra mais alargada. Aliás, em incidentes de maior dimensão, vários CB Voluntários respondem conjuntamente.

 

A intervenção dos Bombeiros Voluntários estava (como ainda hoje está) dependente, para cada incidente ocorrido e reportado, quer de ordem de avanço oriunda do ex-BSB (que centraliza os avisos de ocorrência) quer também da disponibilidade de meios humanos no momento do alarme, sendo mais eficaz a resposta em período nocturno e em dias não laborais, situações estas em que permanecem piquetes de dimensão significativa nos quartéis.

 

 

 

A motorização

 

Os meios de intervenção ao dispor dos Bombeiros, até ao advento da motorização no princípio do Séc XX, eram transportados em veículos de tracção braçal e animal. À semelhança do resto da Europa, os Corpos de Bombeiros (CB) de Lisboa foram progressivamente adoptando meios automóveis, para transporte de pessoal e de material (ligeiro no início; posteriormente mais elaborado e funcionalmente especializado).

 

Nesta matéria coube um importante papel de pioneirismo aos Bombeiros Voluntários Lisbonenses, a partir de 1910, pouco tempo após acompanhados pelo então Corpo de Bombeiros Municipais de Lisboa. Pesem embora as dificuldades resultantes da 1ª Guerra Mundial, os Bombeiros (profissionais e voluntários) da cidade de Lisboa aumentaram as suas capacidades de intervenção motorizada nas décadas de 10 e 20, em boa medida mediante a adaptação casuística e mesmo semi-artesanal de viaturas ligeiras ditas de turismo ou comerciais, cuja utilização se prolongou para a década seguinte, na qual um grande impulso de motorização viria a ter lugar, em especial no que concerne ao então BSB.

 

Fita do tempo condensada

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Os meios motorizados - BSB

 

O principal marco de referência em matéria de modernização é o substancial (para a época e mesmo em termos actuais) contrato de fornecimento adjudicado às prestigiadas firmas alemãs Metz e Mercedes Benz de um lote de 29 viaturas da marca Mercedes-Benz e  equipamento operacional Metz, compreendendo 5 tipologias distintas, cuja entrega decorreu em 1930/31. Na mesma década (em 1936/37) uma nova vaga de aquisições levaria a que o já então BSB se equipasse, também, com veículos Morris Commercial de 8 tipologias diferentes. Relativamente a estas novas aquisições não foi possível clarificar se as viaturas foram montadas localmente ou importadas já com equipamento incorporado.

 

Daquele primeiro evento convencionámos contar e celebrar os 50 anos de motorização dos Bombeiros da Cidade de Lisboa, coincidindo ainda esta realidade com a da supressão dos casos remanescentes de tracção humana e animal que persistiam no CBML, aliás convertido em BSB (então com estatuto militarizado, como a designação sugere) no ano de 1930.

 

Tal renovação quase integral da frota compreendeu um leque significativo de veículos especializados por função mas não integrou viaturas de tipologia Auto-Escada. Efectivamente tinha ocorrido, entre 1925 e 1927, um re-equipamento neste âmbito com 6 unidades Magirus (quantidade razoável considerando o escasso número de edificações em altura na cidade funcional, dessa época). Assim fica assinalada a primeira das duas  épocas de oiro na modernização dos meio auto do então BSB  para o período 1930-1979.

 

Uma nova etapa com forte dinâmica de inovação (anos 50) teria de aguardar a passagem das dificuldades associadas ao segundo conflito mundial, caracterizando-se esta nova iniciativa modernizadora pela aquisição de viaturas de diferentes tipologias, com elevado grau de diferenciação técnica, de marcas norte-americanas e inglesas sobretudo.

 

 

Os meios motorizados - Bombeiros Voluntários

 

Os Bombeiros Voluntários da capital evoluíram também positivamente no arco temporal 1930-1979, no tocante à modernização dos seus meios automóveis, numa escala porém bem mais modesta comparativamente ao então BSB. Tal facto é revelador das persistentes dificuldades de financiamento que, salvo escassas excepções, os CBVs em Portugal sempre enfrentaram. Não obstante, a par do frequente aumento ao serviço de viaturas usadas (amiúde doadas) e engenhosamente adaptadas, também estes CBs se dotaram, mais esporadicamente embora, de unidades novas de grande qualidade funcional conforme nesta plataforma se ilustra.

 

De assinalar que, ao longo do tempo, algumas viaturas abatidas ao efectivo do BSB foram, ao longo do tempo, cedidas gratuitamente aos demais CB da capital com estatuto de Secção Auxiliar de Incêndios, prolongando assim a vida útil daqueles equipamentos e apoiando, simultaneamente, a capacidade de resposta dos respectivos beneficiários directos na actuação de reforço aos meios  BSB que aos mesmos compete.

 

 

 

 

Fontes e legado

 

As fontes relevantes no âmbito da memória histórica dos Bombeiros de Lisboa, em particular quanto aos meios-auto utilizados pelas diferentes Corporações que aí têm operado, revelam-se de acesso físico algo difícil em geral. Relativamente ao passado mais recente foi possível suprir a carência de suportes documentais unificados mediante informação oral e acesso a documentação preservada, facultada por entidades e pessoas individuais. Por razões óbvias, revelou-se no entanto inviável o uso deste meio de pesquisa no que concerne à factualidade mais remota.

 

No que respeita aos Bombeiros Voluntários os fundos documentais existentes concentram-se em pequenos espaços museológicos (em especial dos CBV de Lisboa, da Ajuda, de Campo de Ourique e Lisbonenses), embora alguns destes se encontrem ainda em fase de organização. A LBP-Liga dos Bombeiros Portugueses mantém um Núcleo Histórico e de Património Museológico onde ou através do qual é possível aceder a informação importante na perspectiva histórica, alguma da qual inédita.

 

Quanto aos Sapadores Bombeiros (estrutura profissional integrada na Câmara Municipal de Lisboa)  o panorama é diferente, existindo abundantes fontes documentais (em imagem e texto) no Museu do Bombeiro de Lisboa, unidade organicamente inserida no actual RSB. O acesso a esses dados processou-se, com base em pedido cuja apreciação foi positiva e concretizada com assinalável abertura e espírito de cooperação.

 

O esforço organizativo inicial desta unidade museológica teve lugar a partir de 1929 (ainda enquanto CBML/BSB). Em 2004 o museu foi dotado de modernas e espaçosas instalações, concebidas de origem para o efeito, devendo sem favor considerar-se como um dos melhores, senão mesmo o melhor na época à escala europeia. O museu passou então a albergar um acervo (viaturas e muitos outros equipamentos e materiais) que o colocaram nos lugares cimeiros de entre os seus congéneres a nível mundial. Aí se conservavam, designadamente, mais de 40 viaturas a motor das diferentes épocas, algumas delas em bom ou muito razoável estado de conservação e com significativa representatividade em termos técnico-funcionais, em especial no que respeita ao período 1930-1979  a que a presente iniciativa respeita.

 

Lamentavelmente este museu foi encerrado e as suas instalações vendidas em 2015, estando o respectivo património museológico presentemente disperso, revertendo-se assim à situação de pré-2004 quanto ao acesso pelo público ao seu magnífico acervo. À data de lançamento desta plataforma não são conhecidas soluções que salvaguardem a integridade, perenidade e serviço público das funções museológicas antes disponíveis.

 

De notar que, no que toca aos Bombeiros Voluntários da cidade,  apenas os BV da Ajuda conservam em seu poder uma peça museológica automóvel, ainda hoje mobilizável para paradas e desfiles: um jeep Willys de 1/4 Ton, cuja foto se encontra nesta plataforma digital.

 

 

A viabilização da presente iniciativa apenas se tonou possível pela conjugação de numerosos e generosos contributos, quer de cariz institucional (RSB, CBVs, LBP) quer ainda (e cumulativamente) oriundos de bombeiros (com e sem farda), historiadores e observadores atentos e interessados relativamente à realidade pretérita a que nos reportamos. A equipa LIS50 a todos vivamente agradece a disponibilidade e empenho manifestados.

 

Algumas das imagens (fotos e desenhos) apresentadas são de origem privada ou recolhidas no Museu do Bombeiro de Lisboa, em alguns dos CBVs representados, na Liga dos Bombeiros Portugueses e ainda, com a devida vénia, no site do Arquivo Fotográfico da CML e nos blogues Restos de Colecção e Fotold por acesso via internet devidamente autorizado.  Em todas as circunstâncias e salvo lapso involuntário a autoria ou propriedade de cada imagem, desde que conhecida, é devida e directamente assinalada. Vide a secção Memória desta plataforma.

 

No caso particular do ex-BSB e conforme acordado: as fotos cedidas pelo Museu do Bombeiro de Lisboa a que correspondem viaturas que integram o respectivo fundo museológico são representadas a cores; As fotos de arquivo respeitantes a viaturas que não integram o actual acervo do museu figuram a sépia.

 

A apresentação dos diferentes CBs nesta plataforma segue a ordem correspondente à data de fundação ou herança histórica (séries de imagens A,B,C,D,D,F,G e H, respectivamente). Para cada um dos 8 CBs aqui representados procurou-se que a sequência das imagens corresponda, sensivelmente, à data de entrada ao serviço (ou de fabrico na ausência da primeira) das viaturas (em sequência numérica, ie:: 01, 02, etc...), embora a datação nem sempre haja sido possível ou inequivocamente confirmada. Por outro lado, a numeração de referência de todas as imagens adicionadas nas revisões (post-2016) não reflecte necessariamente a ordem cronológica das mesmas.

 

Nos casos em que se considerou relevante, designadamente por evidência de uma nova vaga de modernização, fazem-se também figurar, in fine da série dedicada a cada um dos CBs, algumas viaturas de cuja imagem se dispõe mas que se sabe ou presume terem sido operadas nas décadas imediatamente seguintes ao período de referência desta plataforma (ie: entre 1980 e 1999); nestes casos as fotos seguem uma numeração iniciada por 9, em cada uma das oito séries.

 

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